Filosofia Medieval - Método de apreender e meditar. (Hugo de São Vitor)


Método de apreender e meditar.

Quem foi Hugo de São Vitor?



Hugo de São Vitor nasceu na saxônia, que hoje faz parte do território  da Alemanha,no ano de 1096.Ainda jovem sentiu a vocação religiosa e mudou-se para Paris com a intenção de ingressar no Mosteiro de São Vitor, no qual residiu ate sua morte em 1141.Ele viveu, portanto, na primeira metade do século 12.

 Na época em que viveu Hugo de São Vitor foi uma das pessoas  mais importantes da historia da civilização ocidental, pois foi nela que começaram a se organizar as nações que hoje fazem parte da Europa.
 Neste período,no ano de 1100, São Vitor era o nome de uma capelinha situada nos arredores de Paris e frequentada por pessoas que vinham , longe do tumulto da cidade, consagrar algum tempo a meditação e a oração.


A pedagogia Vitorina.



 Uma das características marcantes da pedagogia moderna consiste no ter ela conseguindo dissociar, cada vez mais profundamente ao longo dos últimos anos o estudo da busca de Deus.

 Em sua época Hugo de São Vitor organizou o estudo como um instrumento de ascese cristã a ser utilizado conjuntamente com os demais meios para o desenvolvimento da vida do espirito

 A função do estudo dentro do conjunto da vida espiritual.
 Hugo de Sã Vitor mostra que a atividade da escola vitorina começa precisamente onde terminam as aspirações da escola moderna, motivar o aluno para o estudo não é objetivo da pedagogia vitorina, mas seu ponto de partida.Segundo Vitor o estudo, enquanto tal, ele próprio se ordena a uma serie de outras atividades do espírito e todas estas, por sua vez se ordenam, mediante o auxilio da graça,como ao seu fim, ao que se chama de contemplação.No entender de Hugo de São Vitor, portanto a função da escola inclui muito mais coisas do que apenas o estudo,embora seja organizada de tal modo que, no que depende dela, o estudo seja a origem de todas.

Passos para a perfeição do estudo.

 Há quatro coisas nas quais se exercem a vida dos santos, que são como degraus pelos quais se elevam a futura perfeição são estes:
*  Estudo ou Doutrina
*  Meditação
*  Oração
*   Ação

  Todos estes degraus vão resultar num quinto passo: A contemplação.

 Destes cinco degraus que falamos o primeiro, isto é, a leitura, pertence aos principiantes .O maior de todos , isto é ,a contemplação, pertence aos perfeitos.Quanto aos intermediários, será mais perfeito aquele que estiver subido em maior numero, em outras palavras, o primeiro, isto é, a contemplação, da inteligência. O segundo, a meditação,fornece o conselho. O terceiro, a oração, pede. O quarto. A ação busca. O quinto, a contemplação, encontra. 
 Se, portanto, lês ou estudas, e tens por isso a inteligência e conheces o que se deve fazer,isto já é o principio da bem,mas ainda não te será suficiente, não és perfeito ainda.
 Sobe, pois na arca do conselho e medita como poderás realizar aquilo que aprendestes através da leitura e do estudo que deve ser feito. De fato houve muitos  que possuíram a ciência , mas poucos foram aqueles  que souberam de que modo era importante saber.

O estudante deve ser humilde.





A humildade diz Hugo de São Vitor é o principio do aprendizado, O estudante que desde o inicio não é motivado pela humildade, nunca alcançara a sabedoria. A humildade é o principio da aprendizagem,como diz Hugo de São Vitor, e existem três principais características deste principio. A primeira é que não tenha como vil nenhuma ciência, nenhuma escritura.A segunda é que não se envergonhe de aprender de ninguém. A terceira é que quando tiver alcançando a ciência, não despreze os demais.

 Muitos se enganaram por querer parecer sábios antes do tempo, pois com isto se envergonham de aprender dos demais o que  ignoravam. Tu, porem, meu filho, aprende de todos de boa vontade aquilo que desconhece. Seras mais sábios que todos ,se quiserem aprender de todos de boa vontade aquilo que desconheces. seras mais sábio que todos se quiseres aprender de todos.
 O bom estudante deve ser humilde e manso, inteiramente alheio aos cuidados do mundo e as tentações dos prazeres, e solicito em aprender de boa vontade de todos.Nunca presuma de sua ciência;não queira parecer doutor, mas se-lo;busque os ditos dos sábios, e procure ardentemente ter sempre s seus vultos diante dos olhos da mente, como um espelho.

Como o estudante deve proceder.


A humildade, segundo Hugo de São Vitor, coincide com a primeira bem aventurança, aquela da qual Jesus dizia”Bem aventurados os pobres de espirito, porque deles é o reino dos céus”.que se torna o ponto de partida da vida cristã. Sobre estas passagem diz Hugo de São Vitor: bem aventurados os pobres de espirito, por que deles é o reino do céus, há os que são ricos de espirito, e há os que são pobres de espirito;os ricos de espírito são os soberbos;os

pobres de espíritos são os humildes.
Buscar em primeiro lugar a verdade.
 É necessário também ,como diz Hugo de São Vitor, que aquele que tiver iniciado este caminho procure aprender nos livros em que estudar não apenas pela beleza do fracasso,mas também  pelo estimulo que eles oferecem á pratica das virtudes, da tal maneira que  o estudante procure neles não tanto a pomposidade ou  a arte das palavras,mas a beleza da verdade.
Admirar a beleza da verdade apreendida não será suficiente; sera necessário renunciar decididamente aos nossos próprios pontos de vista, que frequentemente representam o atrelamento da inteligencia á vida das paixões,libertando para habitua-la a seguir mais docilmente a evidencia da verdade. A menos que estejamos dispostos a isto estaremos estudando, no dizer de Hugo de São Vitor,apenas pela !”beleza do fraseado e pela arte das palavras” e não pela pratica das virtudes e pela busca da verdade.
Para Hugo de São Vitor o que o estudante deve procurar com o estudo é o libertar-se, através da busca da verdade,da estreita visão de mundo que lhe é imposta pela vida das paixões e de que vive tanto ele como a sociedade á qual ele imita. Estas coisas aprisionam a inteligencia e não lhe permitem seguir a luz da graça e a própria evidencia de uma verdade que deveria, á medida em que é buscada, torna-se cada vez mais radiante.
 Eis uma questão impossível de se responder inteiramente em poucas páginas. Segundo Hugo de São Vítor, o estudo deve conduzir à aquisição da Ciência Sagrada, através da qual o aluno possa conduzir-se, por sua vez, no caminho da virtude e da contemplação. 
 Surge então a questão de  que, segundo este modo de se entender o estudo, deve- se estudar ou deixar de estudar.
 A primeira resposta que encontramos nos escritos de Hugo de São Vitor a este respeito é que se deve estudar tudo, sem desprezar nada. Uma afirmação como esta pode parecer, num primeiro exame, um despropósito, mas Hugo, neste ponto, foi bastante claro. Segundo ele nos explicou no início do Opúsculo sobre o Modo de Aprender, o aluno que despreza de antemão qualquer forma de conhecimento, o aluno que "tem como vil alguma ciência ou alguma escritura", mostra não possuir com isto a virtude da humildade, e a humildade é, segundo Hugo, "o princípio de todo o aprendizado". E no sexto livro do Didascalicon ele vai ainda mais longe; ali ele nos diz o seguinte


 O estudante deve ser humilde. 



A humildade, diz Hugo de São Vitor, é o princípio do aprendizado. O estudante que desde o início não é movido pela humildade, nunca alcançará a sabedoria. Vamos examinar, a este respeito, a introdução do Opúsculo sobre o Modo de Aprender:



"A humildade", 
diz Hugo de São Vítor.


"é o princípio do aprendizado, 
e sobre ela, muita coisa tendo sido escrita,
as três seguintes, de modo especial, 
dizem respeito ao estudante.

A primeira é que não tenha como vil 
nenhuma ciência e nenhuma escritura.

A segunda é que não se envergonhem 
de aprender de ninguém.

A terceira é que, 
quando tiver alcançado a ciência,
não despreze aos demais.

Muitos se enganaram por quererem parecer sábios antes do tempo,
pois com isto se envergonharam 
de aprender dos demais o que ignoravam.

Tu, porém, meu filho,
aprende de todos de boa vontade
aquilo que desconheces.
Serás mais sábio do que todos, 
se quiseres aprender de todos.



Nenhuma ciência, portanto, tenha como vil,
porque toda ciência é boa. 
Nenhuma escritura, ou pelo menos, 
nenhuma lei desprezes, se estiver à disposição.
Se nada lucrares, também nada terás perdido.



Tu, porém, meu filho,
aquilo que desconheces.
Diz, de fato, o Apóstolo:



"Omnia legentes,
quae bona sunt tenentes"


O bom estudante deve ser humilde 
e manso, inteiramente alheio aos cuidados 
do mundo e às tentações dos 
prazeres,e solícito em aprender de
 boa vontade de todos.

 Nunca presuma de sua ciência;
 não queira parecer douto, mas sê-lo;
 busque os ditos dos sábios,e procure 
ardentemente ter sempre os seus vultos
 diante dos olhos da mente,como um espelho". 


O que é a humildade. 


A humildade, segundo Hugo de São Vítor, coincide com a primeira bem aventurança, aquela da qual Jesus dizia:

"Bem aventurados os pobres de espírito,
porque deles é o Reino dos Céus", 

e que é o ponto de partida da vida cristã. Sobre esta passagem diz Hugo de São Vitor:


"Bem aventurados os pobres de espírito, 
porque deles é o Reino dos Céus:
há os que são ricos de espírito,
e há os que são pobres de espírito. 
Os ricos de espírito são os soberbos;
os pobres de espírito são os humildes". 


Allegoria e UtriusqueTestamenti, NT. II, 1 


Renuncia

 Disse Jesus que quem não renuncia a si mesmo não poderia ser seu discípulo. Não era outro o objetivo dos alunos de Hugo de São Vitor senão serem discípulos de Cristo, aprenderem o que é o Evangelho, como se o vive e como se pode ensiná-lo aos outros. Assim também Hugo fez exigências similares às de Cristo aos seus estudantes. O estudante que desejar elevar-se até Deus deve ser, conforme já vimos,



"Humilde e manso,inteiramente alheio aos cuidados do mundo
e às tentações dos prazeres, solicito em aprender de boa 
vontade de todos." 





 Buscar em primeiro lugar a verdade.
Diz Hugo de São Vitor.

É necessário também, 
que aquele que tiver iniciado este caminho
procure aprender nos livros em que estudar 
não apenas pela beleza do fraseado, 
mas também pelo estímulo 
que eles oferecem à prática das virtudes, 
de tal maneira que o estudante procure neles
não tanto a pomposidade ou a arte das palavras, 
mas a beleza da verdade". 







Eis algo importante na pedagogia vitoriana.

Jesus promete,no evangelho, como premio aos que sugerem os seus preceitos, que encontraram a verdade e a verdade os libertará, ou tornará livres.Ao dizer isto.Jesus se referia a verdade que se alcança atraves do dom do espirito santo a que as escrituras denominam de sabedria, um objetivo elevadissimo, ao qual se ordena todo o desenvolvimento da vida spiritual.O estudanteporem, que desejar chegara tanto, deverá acostumar-seprimeiro a deixar-se libertar continuamente atraves de verdades menores. Consideremos pois, primeiramente,do que libertam estas verdades menores.


 Na vida humana o desenvolvimento da vida do intelecto é sempre precedido pelo desenvolvimento da vida dos sentidos, e é só gradualmente que se uma se emancipa à outra. Mesmo assim, porém, isto só ocorre com naturalidade quando a vida das virtudes e da inteligência se inicia precocemente e bem, algo raramente observado nos dias de hoje. Quando não é este o caso, o homem desenvolve uma visão do mundo que partirá de uma apreciação fortemente baseada nos sentidos, cujos critérios de validade serão a servilidade na imitação dos costumes sociais e a força das paixões e não a evidência da verdade. Nestas condições, o desenvolvimento da inteligência será orientado para que esta sirva de instrumento para a vida dos sentidos e das paixões.



No Eclesiástico pode-se ler:



"Assim como o Sol resplandecente

ilumina todas as coisas,
assim da glória do Senhor 
estão cheias as suas obras". 



 primeira parte desta sentença é evidente para todos, em qualquer época e lugar. Já a segunda será percebida com naturalidade, mas de forma gradual e com força sempre crescente, naqueles em que a virtude e a inteligência se iniciaram desde cedo, assim que se tiverem apresentado as primeiras possibilidades de o fazerem; para as demais pessoas, a segunda parte da sentença do Eclesiástico pouca coisa significará além de uma simples poesia que se esquece após ter sido ouvida. Por mais que os primeiros tentem explicar aos segundos que algo de verdadeiramente extraordinário nos está sendo apontado na segunda parte desta passagem do Eclesiastes, eles não conseguirão entender a razão para tanto entusiasmo. Embora freqüentemente eles próprios não se dê em conta deste fato, as psicologias de ambos estes grupos de homens foram construídas de um modo estruturalmente diverso e é por isso que o Eclesiastes também nos diz a este respeito:



"Os perversos dificultosamente se corrigem, 


e o número dos insensatos é infinito; 
se a árvore cair para a parte do meio dia, 
em qualquer lugar onde cair,
ou para a do norte, 
aí ficará". 


 Deve-se considerar, além disso, que mesmo para os homens de ambos os casos, a mensagem contida na Revelação estará sempre situada num plano 
extraordinariamente mais elevado do que aquele em que os homens costumam
colocar-se. A este respeito nos diz, de fato, o profeta Isaías:


"Os meus pensamentos não são
nem os meus caminhos são
os vossos pensamentos,
os vossos caminhos,
diz o Senhor.
Quanto o céu sobe em elevação à terra,
tanto se elevam os meus caminhos 
acima dos vossos,
e os meus pensamentos 
acima dos vossos". 



 Esta é a razão por que todos aqueles que se dedicam ao estudo da Ciência Sagrada se deparam constantemente com uma visão do mundo que difere enormemente de suas opiniões e pontos de vista pessoais. Ainda que se tratem das melhores pessoas, elas encontram incessantemente neste estudo a proposta de vivência de virtudes e apresentação de verdades que estarão em conflito com os seus pequenos pontos de vista pessoais. Se o estudo da Ciência Sagrada é conduzido corretamente isto não será uma ocorrência fortuita, mas algo que deverá acontecer continuamente, pois esta é precisamente uma das justificações para a sua existência.

 O que fazer, porém, quando nos encontrarmos diante de um evento como este? Admirar a beleza da verdade apreendida não será suficiente; será necessário renunciar decididamente aos nossos próprios pontos de vista, que freqüentemente representam o atrelamento da inteligência à vida das paixões, libertando-a para habituá-la a seguir mais docilmente a evidência da verdade. A menos que estejamos dispostos a isto estaremos estudando, no dizer de Hugo de São Vitor, apenas pela "beleza do fraseado e pela arte das palavras" e não "pela prática das virtudes e pela busca da verdade".


 Deve-se considerar, ademais, que há um motivo mais específico pelo qual nesta passagem do Didascalicon Hugo de São Vitor se referiu aos alunos que buscam no estudo a beleza do fraseado e a arte das palavras como sendo aqueles que se desviaram da verdadeira meta. É que em sua época, assim como em todo o mundo antigo, o principal desvio da educação se manifestou sob a forma da educação retórica, a qual deu origem, durante a Renascença, à educação que hoje se conhece como humanista, em que o aluno estudava para alcançar uma bagagem razoável de cultura geral através da qual adquiriria boas maneiras e a capacidade de escrever e falar corretamente e bem. A expressão de Hugo de São Vitor, ao dizer que estes alunos se aproximavam da escola já com a idéia preconcebida de que ali estavam para buscar "a beleza do fraseado e a arte das palavras" descreve perfeitamente a atitude fundamental que à época norteava a muitos em seus estudos. Hoje em dia não percebemos mais a força que estas poucas palavras de Hugo tinham porque o principal desvio da educação consiste em estudar com a finalidade de aprender alguma profissão ou técnica com a qual pode-se conseguir, ou não, um retorno financeiro. Este, na ótica da pedagogia vitorina, é um desvio ainda mais grave e ao qual só pode ter-se chegado por ter-se passado primeiro pelo anterior sem que se tivesse percebido suficientemente toda a gravidade do que estava ocorrendo.

 Para Hugo de São Vitor o que o estudante deve procurar com o estudo é o libertar-se, através da busca da verdade, da estreita visão de mundo que lhe é imposta pela vida das paixões e de que vive tanto ele como a sociedade à qual ele imita. Estas coisas aprisionam a inteligência e não lhe permitem seguir a luz da graça e a própria evidência de uma verdade que deveria, à medida em que é buscada, tornar-se cada vez mais radiante. 


"Aquele que diante de uma multidão 
de livros não guarda o modo e a 
ordem da leitura",
continua Hugo de São Vitor,

"como que andando em círculos no meio 
de uma densa floresta, perde-se do reto caminho. 
É de pessoas assim que a Sagrada Escritura diz 
que estão sempre aprendendo, mas nunca 
chegam ao conhecimento da verdade". 


 Nunca abandonar as boas obras. 

ao seu propósito se se dedicar de tal maneira 
"Saiba o estudante que não chegará 
apenas ao estudo que se veja 
obrigado a abandonar as boas obras". 


O estudo deve ser um deleite. 



"Saiba também que não chegará 

ao seu propósito se, 
movido por um vão desejo de ciência,
dedicar-se às escrituras obscuras 
e de profunda inteligência, 
nas quais a alma mais se preocupa 
Para o filósofo cristão
o estudo deve ser uma exortação,
e não uma preocupação; 
deve alimentar os bons desejos,
Como gostaria de mostrar
do que se edifica.
e não secá-los.
àqueles que se puseram ao estudo por amor da virtude,
e não das letras,
o quanto é importante para eles 
que o estudo não lhes seja ocasião de aflição, 
Quem , de fato, estuda as Escrituras como preocupação
mas de deleite.
e, por assim dizer, 
as estuda para aflição do espírito,
não é filósofo, mas negociante,
e dificilmente uma intenção 
tão veemente e indiscreta
poderá estar isenta de soberba.
Deve-se considerar também que o estudo 
de duas maneiras costuma afligir o espírito,
se se tratar de um material muito obscuro,
a saber, pela qualidade, 
e pela sua quantidade, 
se houver demais para estudar.
Em ambos estes casos deve-se utilizar de grande moderação, 
para que não aconteça
que aquilo que é buscado como uma refeição 
venha a ser utilizado para sufocar-nos. 
Há aqueles que tudo querem estudar;
se não tiveres lido todos os livros.
tu não contendas com eles,
seja-te suficiente a ti mesmo: 
que nada te importe
O número de livros é infinito,
não queiras seguir o infinito. 
Onde não existe o fim, não pode haver repouso; 
onde não há repouso, não há paz;
e onde não há paz, Deus não pode habitar".


O que esudar.

Eis uma questão impossível de se responder inteiramente em poucas páginas.
Segundo Hugo de São Vítor, o estudo deve conduzir à aquisição da Ciência 
Sagrada, através da qual o aluno possa conduzir-se, por sua vez, no caminho da virtude e da contemplação. Surge então a questão de o que, segundo este modo de se entender o estudo, deve- se estudar ou deixar de estudar.


 A primeira resposta que encontramos nos escritos de Hugo de São Vitor a este
respeito é que se deve estudar tudo, sem desprezar nada. Uma afirmação como esta pode parecer, num primeiro exame, um despropósito, mas Hugo, neste ponto, foi bastante claro. Segundo ele nos explicou no início do Opúsculo sobre o Modo de Aprender, o aluno que despreza de antemão qualquer forma de conhecimento, o aluno que "tem como vil alguma ciência ou alguma escritura",mostra não possuir com isto a virtude da humildade, e a humildade é, segundo Hugo, "o princípio de todo o aprendizado". E no sexto livro do Didascalicon ele vai ainda mais longe; ali ele nos diz o seguinte:

"Eu ouso afirmar que nunca desprezei 
nada que pertencesse ao estudo;
ao contrário,
freqüentemente aprendi muitas coisas que outros
as tomariam por frívolas ou mesmo ridículas. 
Algumas destas coisas foram pueris, 
é verdade; todavia, não foram inúteis. 
Não digo isto para jactar-me de minha ciência,
mas para mostrar que o homem que prossegue melhor
não o homem que, querendo dar um grande salto,
é o que prossegue com ordem, 
se atira no precipício. 
assim também as ciências tem os seus degraus.
não me parecem ser de utilidade.
Assim como as virtudes, 
É certo, tu poderias replicar:

`Mas há coisas que
Por que eu deveria manter-me 
ocupado com elas?'

Bem o disseste.
Há muitas coisas que,
consideradas em si mesmas, 
parecem não ter valor 
para que se as procurem.
Mas, se consideradas
à luz das outras que as acompanham,
e pesadas em todo o seu contexto,
as outras não poderão ser compreendidas
verifica-se que sem elas 
em um só todo, e, 
portanto, de forma alguma 
devem ser desprezadas. 
Aprende a todas,
verás que nada te será supérfluo.
Uma ciência resumida não é uma coisa agradável". 


Se este texto do Didascalicon é claro ao afirmar que o estudo não deve excluir de seu interesse nenhuma forma de conhecimento, ele não é porém menos claro ao explicar as razões pelas quais se recomenda tal preceito. Hugo quer que o aluno nada exclua de seu interesse para com isto aprender a buscar metodicamente a integridade do conhecimento que é um todo ordenado cujas partes principais não podem ser compreendidas em um só conjunto sem o concurso das partes secundárias. Se o estudante, portanto, não deve desprezar nenhuma forma de conhecimento, isto não significa que deve aplicar-se a todas por igual ou preferir umas às outras sem critério. Indubitavelmente, segundo Hugo de São Vitor, a parte principal do estudo é o conhecimento das Sagradas Escrituras e da Ciência Sagrada que dela deriva.

 O que, porém, e como deve ser estudado para se alcançar o conhecimento desta Ciência Sagrada é algo que não é possível de ser respondido nas poucas páginas deste texto. Há, entretanto, pelo menos um critério tão importante que não pode deixar de ser aqui mencionado. Pelas explicações e pelos exemplos dados por Hugo de São Vítor, depreende-se que, independentemente da questão do conteúdo do estudo, ele deve ser conduzido preferencialmente através dos textos cujos autores escreveram manifestamente sob a influência dos dons de entendimento e sabedoria, e que são, em geral, os escritos dos teólogos que também foram santos. A razão desta exigência consiste em que, conforme já havíamos apontado, o estudo deve ordenar-se, como ao seu fim último, à contemplação. Chama-se contemplação àquela operação da alma que surge no homem quando, sob a influência dos dons do Espírito Santo de entendimento e de sabedoria, a uma fé firme, constante e pura se acrescenta uma caridade intensa. Quando o homem consegue viver as virtudes teologais num grau tão alto a ponto de poder elevar-se à contemplação, esta se torna um dos principais meios de santificação para o homem. As obras dos teólogos em que se manifesta a influência do dom de entendimento ou do dom de entendimento elevado pelo dom de sabedoria são obras que derivam, portanto, do próprio exercício da vida contemplativa. "Elas são doces e repletas de amor pela vida eterna", diz Hugo de São Vitor no quinto livro do Didascalicon. O convívio do aluno com elas, ao contrário das demais obras, ainda que tratem dos mesmos assuntos, habitua-o gradativamente a perceber que elas têm uma origem diversa dos livros comuns e acaba por auxiliá-lo a conduzir-se na busca da contemplação. 
 Ora, é justamente este o fim a que se ordena o estudo, e é por isto que as próprias Sagradas Escrituras já distinguiam entre estes e os demais livros: 


Estudar com o propósito de ensinar. 


Eis algo que, tanto quanto sabemos, Hugo não ensinou por escrito, mas o fêz mais do que manifestamente pelo exemplo. Aqueles que estudam para um dia poderem ensinar, seguindo o preceito de Cristo, são os que encontrarão a inspiração do Espírito Santo. E foi a aqueles a quem Jesus acabava de pedir que ensinassem que Ele também prometeu que permaneceria com eles até o fim dos tempos 



A LEITURA E A SABEDORIA: ELEMENTOS NECESSÁRIOS À FORMAÇÃO DA PESSOA


O primeiro desses conceitos apresentado na obra é a sabedoria. Cumpre mencionar que a conotação de sabedoria ao qual o mestre Vitorino se refere, evidentemente, é de chegar a Deus, pois para os homens medievais do século XII, qualquer sabedoria procedia de Deus e alcançá-la significava encontrá-lo por meio do saber, tanto que Hugo esclarece que Sapiência2 é a Mente Divina , porque em maneira clara é expresso o advento de Cristo, que é a Sapiência do Pai”.Com isso, observa-se que em cada momento histórico há concepções e ações ímpares em seu contexto.

 É necessário, também, considerar que para o mestre Vitorino é o intelecto que leva o homem a Deus e proporciona toda natureza de conhecimento: a religiosa e a filosófica. 
 Assim, devemos usar o intelecto para tomar decisões, quando necessárias, agir e viver com o outro. Afinal, é esse conhecimento/discernimento que nos torna capazes da convivência Com efeito, essa discussão se justifica por entendermos que o conhecimento e, consequentemente, a leitura estão intrínsecos ao pensamento/ao saber e essencial à formação da pessoa. Desse modo, acreditamos que as formulações que este mestre trilhou e as evidenciou, tenha influenciado sua época e de outros autores que lhe era contemporâneo acerca desta questão, sobre o conceito e os sentidos de sabedoria e a ordenação dos estudos (a questão de método).
 Cumpre mencionar que, com base na leitura da obra do mestre Vitorino, a sabedoria ainda que seja divina é humana. É divina porque o mundo é explicado pela religiosidade cristã e, também, é humana porque é explicitado a partir de seu contexto, ou seja, o mundo medieval. Athayde (2007) menciona que Hugo de Saint-Victor:


Fica explícito, no excerto, que somos seres dotados de intelecto. Para os homens medievais o intelecto é um dom divino ainda que humano, afinal observamos na passagem acima que o pensamento/intelecto é fruto da razão divina, pois a mente é capaz de captar todas as coisas, e também é humana, pois é formada de substância e naturezaHugo de Saint-Victor procurou fundamentar filosoficamente o entendimento sobre a sabedoria, mas sempre mostrando que Deus era e continuava sendo o ponto de explicação e que os homens (remete-se especialmente a seus estudantes) devem ler tudo e todos, para saberem distinguir o que é bom do que é ruim, isto é, ter a capacidade de discernimento, chegando assim a um pensamento reflexivo.

 Hugo de São Vitor ensina a seus estudantes que a humildade e a mansidão são duas condições que devem ser aperfeiçoada no trato do estudo. Conhecer pressupõe alguns requisitos e dentre estes a humildade, a mansidão e a reflexão devem-se fazer presente para que o aprendiz não cometa injustiças e julgamentos precipitados. A humildade e a mansidão conservam o estudante para que o mesmo leia e escute, com atenção, todos os escritos e, com isso, absorva os bons ensinamentos que cada um desses possa lhe oferecer. A reflexão, por sua vez, é uma consequência desses requisitos, afinal como 
afirma o mestre Vitorino, devemos aprender a refletir com minúcias sobre todo escrito (conhecimento), pois desta forma não será estabelecido julgamentos, ou ao menos, terá ciência do que será tratado/estudado sem menosprezar o que o outro tem a transmitir.Ser humilde e manso, portanto, é receber tranquilamente e reflexivamente aquilo que lhe é ensinado, sem, no entanto, menosprezar o conhecimento ou ler sem aprofundar, sem dedicação, meditação. Afinal, como o próprio mestre assinala, o bom estudioso não se manifesta, com ímpeto, de forma ofensiva ao que desconhece ou com uma ação repreensiva, julgando que apenas seu conhecimento (aquilo que adquiriu) é o melhor e o ensinamento que ainda não entendeu é desnecessário, mas sim, está aberto ao conhecimento, ouvindo com atenção. Essa questão que ora mencionamos a respeito de julgamentos é algo bastante oportuno de esclarecermos, pois comungamos com o mestre Vitorino ao expressar sua preocupação em conhecer algo em profundidade para, então, discorrer ou debater sobre o assunto/tema.  Compartilhamos acerca dessa questão, também, por acreditarmos que 
pesquisar e estudar no campo da história da educação, o período medieval, pressupõe alguns desafios, dentre estes o de compreendê-lo sem estabelecer julgamentos, visto que cada época expressa maneiras de os homens pensarem e agirem, pois respondem a questões e demandas de um determinado tempo histórico. Ao fazermos isto, compreendemos e nos aproximamos de forma mais efetiva do contexto de cada existência.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filosofia do Brasil

Intelectual o que é????